
O Hospital foi fundado por Eurípedes Barsanulfo na década de 20, no século passado. O objetivo do benfeitor amoroso foi criar um albergue espiritual para abrigar corações ligados à mensagem cristã e que não se saíram bem em suas reencarnações.
Eurípedes, quando ainda encarnado (ele faleceu em 1918) teve um contato com Jesus durante o sono físico e o Mestre estava chorando. Perguntado várias vezes por quem chorava, se era pelos políticos, criminosos ou maldosos, Jesus respondeu que não chorava por eles. Ele chorava pelos que lhe conheciam a mensagem e não a seguia.
Eurípedes Barsanulfo, tocado pela bondade do Mestre com os cristãos consciencialmente falidos, fundou o Hospital Esperança para abrigar católicos, evangélicos, espíritas, umbandistas e todos os que adotaram a mensagem cristã sem, contudo, consegui-la aplicar em suas vidas na solução das lutas íntimas.
Apesar ser um hospital muito grande no astral, encontra-se lotado nos dias atuais e o livro de Ermance Dufaux, Lírios de Esperança, é um relato minucioso da história real de dois dirigentes espíritas com uma larga folha de serviços prestados ao espiritismo, no entanto, chegaram com dores e padecimentos lamentáveis na vida espiritual.
O alerta deste livro é extremamente atual para nós espíritas. Muitos de nós estamos repetindo a velha ilusão do conhecimento e das práticas religiosas sem renovar nossas atitudes.
Selena e Marcondes, que são os personagens do livro, tiveram atuação destacada nas práticas da doutrina, eram dotados de um conhecimento profundo das obras de Kardec e também dos chamados livros subsidiários que complementam a codificação espírita. Ainda assim, devido à arrogância e soberba na conduta, deixaram um rastro de dor para si próprios.
Por essa razão, quando me solicitam detalhes do Hospital Esperança, o ponto principal no qual prefiro me deter é nesse alerta sobre a nossa forma de agir, já que fomos iluminados pelo conhecimento espírita.
Que fique bem claro a todos nós que: práticas espíritas e conhecimento, apesar de serem obras do bem, não salvam ninguém por automatismo. Como tem sido bom para mim ter acordado para essa verdade.
É muito fácil a gente se equivocar com isso e ser tomado por um orgulho pessoal em função da cultura doutrinária e da nossa devoção a tarefas espíritas. Esse orgulho que se alimenta de inúmeras ilusões, tais como: ser médium, dirigente, fundador de obras sociais, palestrante renomado, escritor, integrante de organizações influentes, passista e outras fantasias que em nada acrescentam para nossa paz pessoal e avanço espiritual.
O grande alerta de “Lírios de Esperança” é sobre a nossa trajetória como espíritas durante a reencarnação, e como somos capazes de nos enganar ao fazermos um enorme movimento para fora no trabalho do bem sem, contudo, aprimorarmo-nos no movimento para dentro na reforma interior de nossos sentimentos e tendências.
Ficha de tarefas espíritas e cultura doutrinária causam uma falsa ilusão de evolução espiritual. Isso não significa que as tarefas e o conhecimento não sejam importantes. Pelo contrário, são fundamentais e devemos mesmo continuar cada vez mais integrados ao estudo e à atividade do bem. Entretanto, o cuidado a que somos convocados é o de saber como anda nosso íntimo enquanto absorvemos as informações e praticamos as atividades doutrinárias. A ilusão é muito sutil.
Conhecimento que não gera paz interior e melhora de nossa existência pode ser apenas informação e não transformação. Informação que congestiona o cérebro e não muda nossa forma de ser. Cérebro repleto de princípios e leituras e coração vazio de paz e ideais de melhoria moral. Estudo da doutrina, antes de tudo, deve visar nossa melhora moral. Infelizmente, pelas informações do livro citado, Selena e Marcondes amealharam um cabedal invejável de cultura espírita e eram intragáveis no relacionamento humano. Selena, inclusive, como mostra o livro, chegou a presenciar depois de desencarnada um lamentável nível de rejeição no centro espírita que dirigia.
Tarefas no bem é outra grave ilusão para nosso orgulho. Existem campeões do serviço assistencial capazes de um desapego e de uma dedicação exemplares com as tarefas e que são detestados em seus próprios lares, porque são maus pais, maus chefes, maus funcionários, maus vizinhos ou amigos. São muito bons como tarefeiros e descuidados como seres humanos na sociedade. É muito fácil ser bom dentro de ambientes de caridade. O difícil é ser caridoso com as pessoas que exigem muito de nós na rotina.
Tarefa espírita não nos distingue de ninguém. Não nos faz melhores por estamos participando delas. O que nos faz melhor é a forma como vivemos nossa vida uns com os outros. É na relação humana que está nosso maior desafio.
Ser bom e fazer o bem padronizado dentro das agremiações espíritas é muito fácil. Difícil é olhar para dentro de nós e ter humildade suficiente para reconhecer nossas fragilidades e ilusões. Façamos algumas perguntas para comprovar isso.
O que é mais fácil? Dar um prato de sopa ou calar a língua diante do desejo de falar mal de alguém?
O que é mais fácil? Fazer uma palestra ou perdoar alguém que nos traiu?
O que é mais fácil? Receber um espírito na mesa mediúnica ou ser educado com alguém que disputa agressivamente a nossa vaga no emprego?
Ser espírita de padrão é uma ilusão. Até porque o padrão que foi criado dentro da comunidade espírita, para reconhecer um adepto, é extremamente frágil, superficial e não se afiniza com a realidade.
Vale a pena a leitura do livro “Lírios de Esperança” que é um convite claro e fraterno para nos adequarmos a um novo padrão de ser espírita com mais autenticidade, com mais afeto e “pé no chão”. Quem consegue enxergar essa mensagem com o coração, certamente está se candidatando a um melhor aproveitamento de sua reencarnação da orientação espírita em sua vida.
Deus nos guarde na caminhada.
Espero que meu artigo não desestimule ninguém a deixar de buscar o conhecimento e as práticas espíritas, todavia que minha reflexão possa ser um estímulo para priorizar acima de tudo a melhoria de nossa condição interior.
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